Um multímetro para você montar.
Artigo: Newton C. Braga (*)
Você tem um multímetro? Não, mas gostaria de ter. Se você já encontrou na sua sucata um galvanômetro, aquele reloginho com um ponteiro que fica oscilando quando a música toca nos mixers, amplificadores e outros aparelhos de som como VU – Volume Units), pode usá-lo para fazer isso. Vamos ensinar como.
Os Multímetros
É claro que se você não encontrar, mas quer montar pode até comprar um pela internet.
Os multímetros, ou Volt-Ohm-Miliamperímetros como também são chamados, são instrumentos de prova que servem para medir três grandezas elétricas basicamente: tensões, correntes e resistências.
Nas casas de equipamentos eletrônicos os leitores podem ainda ver multímetros analógicos (figura 1)
Figura 01
Se bem que, relativamente aos custos, os multímetros sejam de todos os instrumentos os mais acessíveis aos estudantes, principiantes e amadores de menos recursos, acreditamos que a maioria dos leitores ainda não possua um destes em sua bancada.
Assim, utilizando como base um instrumento de boa sensibilidade que é o VU-meter, que pode ser encontrado a baixo custo na maioria das casas de material eletrônico, resolvemos projetar um multímetro de baixo custo, e que dentro das exigências da maioria dos nossos projetos, pode ser de grande ajuda aos montadores.
Nosso instrumento, como multímetro simplificado, possui três escalas de tensões que permite a medida desta grandeza na faixa de 1 à 100V com boa precisão, e além disso uma escala para medida de resistências. Montado numa pequena caixa plástica, com sua própria bateria interna de grande autonomia, este aparelho é totalmente portátil e, portanto, de manuseio extremamente fácil (figura 2).
Figura 02
O CIRCUITO
O princípio de funcionamento deste multímetro é o mesmo dos multímetros profissionais, com a diferença que usamos um instrumento de baixo custo com uma escala menor, o que de certo modo não permite a obtenção de uma excelente precisão. Assim, enquanto os instrumentos de boa qualidade têm uma precisão na faixa de 1 ou 2%, o nosso poderá ser ajustado a ponto de chegar a uns 5% de precisão.
Na figura 3 temos então um diagrama de blocos que representa o nosso instrumento.
Figura 03
O bloco principal, sem dúvida, é o que corresponde ao instrumento, um medidor de corrente (VU) que no caso exige uma corrente de 200pA para deflexão total de sua agulha. Em função destes 200pA é que são calculados os demais componentes do circuito, que determinam o que ele pode medir e com que precisão.
Assim, para a escala de tensões, o que se faz é ligar um trimpot em série com o instrumento de tal modo que, com uma determinada tensão de entrada, tenha-se uma deflexão total do instrumento, fixando-se o fundo da escala.
Assim, no nosso caso, com uma resistência da ordem de 5k, correspondente ao trimpot e resistência interna do instrumento, com 1V na entrada temos uma corrente de 200 pA (1/200pA). Isso significa que, com o simples acréscimo do trimpot ajustado para esta resistência, temos já a operação do instrumento corno voltímetro de O à 1V, ou seja, capaz de medir tensões entre O e 1V. (figura 4)
Figura 04
Com um trimpot ajustado para termos uma resistência total de 50k, teremos a corrente de 200 µA de fundo de escala, com 10V, o que significa que podemos então medir tensões de 0 à 10V. É a segunda escala do instrumento. E, igualmente, com uma resistência total de 500k, a tensão máxima chegará à 100V. É a terceira escala do instrumento. No projeto final, teremos as três escalas, com três trimpots pré-ajustados cuja ligação é escolhida pela colocação das pontas de prova em bornes apropriados. (figura 5)
Figura 05
Veja o leitor que se dividirmos o fundo de cada escala pelo valor de resistência total do instrumento teremos sempre o mesmo valor:
1 volt dividido por 5k = 5k
10 volts dividido por 50k = 5k
100 volts dividido por 500k = 5k
Para medir resistências o que se faz é aplicar uma tensão e verificar a corrente circulante. Esta corrente, de acordo com a lei de Ohm, é inversamente proporcional à sua resistência. Assim, para o setor de medida de resistência usamos uma bateria interna de 3V, formada por duas pilhas e um trimpot para o ajuste do ponto de funcionamento. (figura 6)
Figura 06
Sem resistência no circuito devemos ajustar o trimpot para a corrente máxima no instrumento. Este ajuste será necessário sempre, pois com o tempo a bateria se desgasta mudando, portanto, a tensão aplicada.
A seguir, intercalando a resistência desconhecida no circuito teremos uma corrente menor. A corrente será reduzida à metade quando a resistência do instrumento (instrumento mais trimpots) for igual à resistência que está sendo medida. No-nosso caso, esta corresponde a um valor da ordem de 30k que será justamente o meio da escala.
Veja então, que a escala de resistência não é linear, pois teremos à sua direita, no máximo, o ponto de resistência zero, no meio a resistência da ordem de 30k e à esquerda, com corrente nula, uma resistência infinita (figura 7). Este tipo de escala é característico dos instrumentos tipo série para a medida de resistências.
Figura 07
O valor de 30k no meio da escala pode ser considerado bom para os trabalhos práticos realizados por estudantes e amadores.
OS COMPONENTES
Figura 08
Uma caixa plástica com as dimensões indicadas na figura 8, ou de acordo com o instrumento escolhido, não oferecerá dificuldade aos leitores.
Com relação aos componentes eletrônicos, começamos com o VU que é o mais importante.
O VU recomendado é o de 200 µA (comum), não importando sua escala já que esta poderá ser alterada. Os tipos de 0-1 mA podem também ser usados, mas a sensibilidade do instrumento ficará reduzida para 1000 ohms por volt e o novo centro da escala de resistência será em 6k.
Os diodos podem ser de qualquer tipo, de silício como o 1 N4001, 1 N4002, 1 N914 ou seus equivalentes. Os resistores são todos de 1/8W com tolerância de 10% ou mais, já que um ajuste prévio de funcionamento nos trimpots evitará a influência destes componentes no circuito. Os trimpots são todos comuns, com os valores indicados na lista de material ou pouco maiores.
MONTAGEM
A montagem é bem simples porque poucos componentes são usados. Recomendamos a montagem em ponte de terminais, com a colocação dos trimpots em posição que facilite o seu ajuste.
Para a soldagem o leitor deve usar um soldador de pequena potência (máximo 30W) e solda de boa qualidade. As ferramentas adicionais são as comuns: um alicate de corte lateral, um alicate de ponta fina e chaves de fenda.
Na figura 9 temos então o circuito completo do nosso multímetro e na figura 10 a disposição dos componentes na ponte de terminais.
Figura 09
Figura 10
Os fios de ligação entre os componentes devem ser curtos para que não influenciem, com sua resistência, na precisão do instrumento.
O trimpot de 22k para o ajuste de nulo da resistência é o único que deve ser montado no painel do instrumento, pois este deve ser acionado antes de todas as medidas de resistência. Na dificuldade de instalar no painel este componente, o leitor pode optar por um potenciômetro miniatura de mesmo valor.
Veja que não é preciso usar interruptor para a bateria interna, pois basta desligar as pontas de prova para que o circuito fique automaticamente inativo.
Complete a montagem com a interligação dos componentes da ponte com os bornes e o instrumento, assim como do trimpot Zero Adj e o suporte de pilhas. Use fio fino de capa plástica em comprimento não excessivo.
Terminada a montagem, antes de fazer a escala para o instrumento, verifique se ele funciona corretamente.
Prova Inicial
A prova inicial é feita simplesmente ligando-se as pontas de prova nos bornes (comum) e (ohms). Se o ponteiro do instrumento deflexionar para o lado errado, ou seja, tender para a esquerda, inverta a ligação do VU. (Veja também se a ligação do suporte de pilhas não está errada).
A seguir, coloque as pontas de prova, uma no terminal comum (preta) e a outra no terminal 0-10V (vermelha). Ligue as pontas de prova numa bateria de 9V. O instrumento deve deflexionar para a direita. Não se preocupe com o que ele marcar pois ainda não fizemos sua calibração!
CALIBRAÇÃO E ESCALA
A escala é mostrada na figura 11. Veja o leitor que ela deve ajustar-se perfeitamente ao tamanho do seu instrumento, isto é, a agulha na posição de mínimo deve marcar 0 V e na posição de máximo deve ir ao 1.
A escala de resistência dada é para os tipos de 200 µA. Se você usar um tipo de 1 mA, divida por 5 todos os valores da escala de resistência.
Uma vez desenhada num papel com tinta nanquim preta, você deve colocar sua escala no instrumento, tirando seu painel para isso. Cole a nova escala tomando cuidado com a agulha que é muito sensível e verificando se ela mantém seu movimento livre.
Lista de Material
Sobre
O Instituto Newton C. Braga visa oferecer apoio didático para o ensino de tecnologia tanto para o nível fundamental e médio como técnico e superior. O apoio está baseado na ampla experiência do autor como educador e autor de centenas de livros sobre o assunto, com projetos adotados numa infinidade de escolas de todo o mundo. Este apoio está focado em três áreas:
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Fornecer programas de projetos práticos para que as escolas implantem o ensino de tecnologia. Os projetos são criados pelo autor, e em alguns casos disponíveis na forma de kits fornecidos pelo nosso parceiro, Eletrônica Rei do Som (www.reisdosom.com.br).
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Fornecer material impresso como apostilas que facilitem tanto o trabalho dos professores como dos alunos.
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Dar treinamento aos professores com suporte à distância para as dúvidas que eventualmente eles tenham.
Nos ítens a seguir poderão ser encontradas mais informações sobre o método de ensino desenvolvido por Newton C. Braga baseado em seu personagem Professor Ventura.
Professor Ventura Ensina Tecnologia
O personagem criado pelo autor protagoniza estórias e aventuras ensinando tecnologia e dando as principais explicações sobre projetos e seus funcionamentos. O aspecto lúdico do aprendizado não é esquecido.
Banco de Imagens
Fotos do autor e de seus alunos nas escolas que já utilizam o projeto e em eventos importantes.
Ensinando Tecnologia
Porque ensinar tecnologia nas escolas, analisando as necessidades atuais dos programas oficiais e PCN.
Exemplos de Projetos
Alguns projetos já implantados e que estão disponíveis para as escolas interessadas na página de Mecatrônica..
Para mais informações escreva-nos: leitor@newtoncbraga.com.br.